domingo, 29 de julho de 2007

Como o sangue que nos une


“Todas as coisas são interligadas, como o sangue que nos une. O homem não tece a teia da vida, ele é apenas um fio dela, o que fizer a teia, fará a si mesmo. O destino de vocês é um mistério para nós.”

Partindo desse principio percebe-se que há uma delicada rede que rege os seres humanos, o que fazemos ou deixamos de fazer no presente trará boas ou más conseqüências para nosso futuro. A falta de investimento na educação trouxe sérias conseqüências para essa nação, mas essa situação se faz presente no macro e no micro, considerando o país e nossa região.
Perceber as dificuldades da educação, na rede pública de ensino principalmente, é tarefa fácil para quem se insere nesse contexto, basta um dia dentro de uma sala, ouvindo os relatos dos professores, para perceber a indignação, indignação esta, não contra o sistema, mas contra seus alunos que, assim como eles, os professores, são as maiores vítimas do sistema do nosso país, sistema corrompido.
Tanto as vitimas dos grupos de extermínio, quanto os componentes do grupo, geralmente tem apenas o 1º grau completo, quando muito. Um dos principais motivos para fazer a chamada “limpeza social” (como é chamada a carnificina), é o tráfico de drogas, tráfico este que ocorre dentro das escolas do nosso país, sob o olhar de toda a sociedade que reage de forma apática, sociedade e Estado, apáticos ao sofrimento alheio, porém lutando pelos próprios interesses, individualistas, sem entender que o que se faz ou deixa-se de fazer ao próximo, trará conseqüências não no futuro, mas agora.
É um ciclo, o jovem entra no tráfico ou apóia os grupos de extermínio. Se entrar nas drogas, será perseguido pela polícia e por seus próprios “patrões”, se entrar para um grupo de extermínio, será perseguido pelos mesmos de antes, fica portanto enjaulado, sem escapatória ao se inserir nesse contexto, bombardeado pelo consumismo, o jovem tende a se inserir nele, num país paradoxal.
Se a pesquisa informa que a grande maioria das vítimas do grupo de extermínio são analfabetos ou semi-analfabetos, homem simples, crianças e adolescentes são cerca de 16% do total de mortos, fica claro que isso tem muito a ver com a atenção dada a educação nesse país. É provável que várias crianças e adolescentes sejam eliminados, pela simples desconfiança que no futuro venham se tornar além de “marginais”(pois já o são quando nascem pobres, negros...) um perigo para a sociedade, isto porque em lugar de estarem em escolas, serem incentivadas a estudar, estão nas ruas. Por muitas vezes, chegam até as escolas, mas não tem condições de continuar, tendo, portanto, o direito a educação que consta no estatuto da criança e do adolescente, desrespeitado. A política do governo de dar o peixe em lugar de ensinar a pescar, parece não resolver o problema de quem tem que alimentar famílias com dez, doze crianças, crianças estas trabalham nas ruas, se vendem ao submundo das drogas, a prostituição, para que a família em que elas nasceram sobreviva.
Grupos de extermínio incentivados por donos de estabelecimentos, que por medo dessas crianças, patrocinam os matadores. A participação de policiais e ex-policiais também não está afastada dos casos de extermínio, entre apoio e descaso, eles incentivam essa prática.
Segundo um dossiê "Grupos de Extermínio no Brasil", elaborado pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, essas pessoas em sua maioria, são do sexo masculino, negros, pobres e jovens (20 anos em média), são homens e mulheres previamente excluídos de seus direitos. Num contexto mais amplo, pode se dizer que essas pessoas foram excluídas desde a nossa colonização, pelos processos políticos subversivos deste país, os grupos de extermínio são fruto da omissão, conivência e prevaricação das instituições oficiais.
Particularmente, creio que há uma relação entre a baixa escolaridade e a violência, como já citado, não vem de agora, são resquícios de nossa colonização, de nossa educação política, de anos de repressão e ditadura, marcada pela ação de grupos de bandidos que se autodenominam justiceiros, atuando nas camadas marginalizadas por uma sociedade que se acostuma com tudo e até a morte vira forma de sobrevivência e “alimento”. Creio que a relação entre o medo desses grupos por crianças e adolescentes, acaba afastando eles da escola, seja por receio de encontra-los nas esquinas ou mesmo dentro da instituição de ensino, seja por se inserir no contexto deles para poder consumir igual aos demais ou por tentar ser diferente dos mesmos.
A relação que se faz entre uma política corrompida, até nos seus mais altos níveis, que vira o rosto, que bate na face de uma sociedade demente, alienada. Política que age de acordo com suas conveniências, deixando a solta homicidas, por barganhas e prestígio e pessoas que tentam sobreviver dentro dessa política social democrata.
Portanto a relação é muito estreita entre violência na escola e grupos de extermínio e maior ainda entre falta de escolaridade e violência, não só na escola, mas em todas as camadas da sociedade, tal como a teia do início, se mexermos em um fio veremos que todos estão interligados. Enquanto não se reformar a política de ensino desse país, enquanto não formarmos educadores agentes modificadores desse contexto social, seres pensantes, capazes de perceber que, podem sim, transformar sua realidade, inclusive enquanto não apoiarmos todas as áreas da educação, não teremos um país do presente, ele será sempre do futuro e que futuro teremos para os que virão depois de nós?

“Amamos a terra como o recém nascido ama as batidas do coração da sua mãe. Se vendermos a terra, amem-na como nós amamos. Preservem a terra para as crianças e amem-na como Deus nos ama. Sabemos que só existe um Deus.
Nenhum homem, vermelho ou branco, pode viver isolado.
No final das contas, somos todos irmãos”.