segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Deus que responde, Deus de milagres


Vou contar duas histórias e depois podemos refletir sobre elas.
A primeira história é tão sem solução, para nós, quanto a segunda e se olharmos para elas sem o final, podemos perceber que nada, absolutamente nada, está em nossas mãos.
Como é difícil não ter o controle e percebermos que o que temos, é o nada ao nosso alcance.
Vou falar de um homem conhecido por sua paciência. Esse homem sofreu a perda de tudo que tinha, mas além de perder o material, ele perdeu o melhor de todos os presentes que se pode querer: a saúde. O que somos se não temos esse bem maior sob nosso controle?
"A identificação de doenças com nomes antigos não é fácil tarefa, mas a opinião médica dos nossos dias sugere que a doença deste homem fosse um caso de Furunculose Estafilocócica Generalizada, outros falam em Elefantíase e ainda em lepra. O Prof. Flamínio Fávero, Catedrático de medicina legal na faculdade de medicina de São Paulo , ligada ao hospital das clínicas, conclui que a doença deste homem era o Pênfigo Foliáceo, ou Fogo Selvagem."
Seja qual for a doença que este homem tinha, o fazia sofrer muito ,dores terríveis! Mas o que nos faz pasmos é perceber que a maior tristeza dele era pensar estar longe do Criador e não apenas o fato de estar doente. O que faz esse homem tremendamente, maravilhosamente conhecido por tanto tempo: sua fé. Fé em seu Redentor ele sabia que estava vivo e que por fim se levantaria e olharia para sua situação, transformando tudo em muito melhor! Ele sabia que o seu Senhor, era o Deus que responde! O que este homem fez? Falou! O que o seu Deus fez? Respondeu! O nome deste homem? Jó.A outra história é a de uma mulher, esta sem nome e sem rosto, mais uma em meio a multidão de doentes e pedintes que rodeavam um certo Homem que passou por aqui há alguns muitos anos atrás. Mulher pobre e sem rosto, quem era ela numa multidão? Ela sofria de uma hemorragia havia doze anos, gastou tudo o que tinha com médicos, ninguém conseguiu fazer nada (e novamente o nada nos olha com sua frieza e incredulidade). Porém, esta mulher viu o Homem, Aquele que não tinha formosura aparente, mas que era o que É e o que há de vir, Primeiro e Único, Princípio e Fim, Princípe da paz. Ela apenas tocou a orla de sua veste, por trás da tão temida multidão que o apertava. Aconteceu o inesperado:
- Quem me tocou?
- Uma multidão te tocou! - Responderam os discipulos
- Alguém me tocou com fé, porque de mim saiu poder!
A mulher, sabendo que não podia esconder-se daquele que tem TUDO em suas mãos, se prostrou e confessou que o tocando foi imediatamente curada. Porque? Porque ela creu no Deus de Milagres!Entender que somos nada e que o nada é só o que temos em nossas mãos, é difícil, somos prepotentes e orgulhosos. Ter certeza que Jesus Cristo é este Deus que é TUDO e que Ele é o único que tem TUDO em suas mãos, também é, porque temos que abrir mão de nós mesmos e entregar o fardo.Entender que há alguém olhando por nós e que cuida de nós, em detrimento do que nossos olhos estejam vendo haja o que houver, Ele é quem domina.
Diante disto, nós temos duas opções: Crer que Ele É e entender que esta verdade é a única que existe, ou negar esta verdade e não ter em quem confiar, não ter esperança, não ter fé.
Talvez os nossos problemas muitas vezes pareçem engolir a nossa alma, desdenhar da nossa esperança, brincar com a nossa fé, mas a partir do momento que nos entregamos a esse Deus que emana poder e graça podemos perceber que nada é em vão, que em tudo que há propósitos e que Suas promessas em nossas vidas são de paz. Basta tão somente entrgar e o trabalho cabe a esse Pai de amor. Um Deus que responde, um Deus de milagres, seja qual for a circunstância.Ele sabe o porquê e o domínio está em suas mãos pelos séculos dos séculos. Se cremos que Ele tem tudo e é tudo e nós nada, só aí então, podemos ter Tudo que vem dEle e sermos mais do que podemos imaginar.Tenha fé!
(O Trecho entre aspas foi retirado do livro Consolo, de Eleny Cavalcanti)
Amanda Oliveira (filha da Luz)

domingo, 2 de setembro de 2007

A história de Dayse

Era um travesti alto, magro e desengonçado, e tinha uns implantes. Não sei como começou na homossexualidade, mas disse que tinha sede de Deus desde antes.
Quando criança, num passeio a uma Igreja Católica com sua mãe, viu um caixão de vidro com uma estátua de Jesus dentro. “Igreja do Jesus morto”; a mãe era devota. Quando chegaram perto, ele, pirralho, sentiu que Jesus lhe olhava.
– Mãe, Jesus está vivo!– Pare de dizer besteira, menino...
– ela não viu, mas ele sabia que Jesus não estava morto. Adulto, Daisy foi se desiludindo consigo mesmo numa sede que não terminava por outro tipo de vida, apesar de ter tudo o que um travesti poderia desejar, como um parceiro e um filho adotivo. Ligava o rádio na sintonia dos pentecostais. Ouvia músicas e pregações o dia inteiro. Não se cansava nem da repetição nem dos chavões. Ouvia até a hora de sair para ganhar a vida na rua. Tornou-se um hábito ouvir o evangelho. O parceiro e os vizinhos se irritavam.
Daisy ficava mais amuado, mais convicto. Começou a ler a Bíblia.Uma noite não agüentou mais. Percebeu que não tinha coração para levar a vida assim. Decidiu que aquela seria a sua última noite na rua. Ouviu rádio e pegou a Bíblia. Abriu no primeiro capítulo de Apocalipse, que fala sobre a revelação de Jesus, em suas vestes de luz e língua como espada de fogo. Lindo! Assim seria sua fantasia, a última da vida de rua.– Vou de “drag-jisas”.Enfeitou-se todo de branco e dourado, reverente. Não era uma drag qualquer, era o próprio Jesus de uma maneira simbólica dizendo-lhe que chegara sua hora de mudar. Não conseguiu fazer a vida naquela noite; pregava sem parar, como os pregadores do rádio que ouvia há tanto tempo. Pregava para as prostitutas, para os clientes, para os passantes. O ponto se esvaziou, os habituais corriam para não ouvi-lo. Finalmente, no romper da manhã, tendo arruinado a noite de todos os freqüentadores do ponto, sentou-se feliz, cantando uma daquelas músicas do tipo “sai demônios e vem Jesus”.Logo depois Daisy adoeceu e descobriu-se portador do vírus HIV. Estranhamente não teve medo. Sua irmã conhecia algumas pessoas em Belo Horizonte e resolveu dar uma passada por lá para ver se encontrava ajuda para ele. A vida tem seus caminhos; ao receber a medicação, Daisy encontrou também algumas pessoas do grupo VHIVER, que ajuda portadores do vírus da aids a viver com qualidade. De lá esbarrou nos crentes da Caverna de Adulão e conheceu o Jesus que amava. Converteu-se, “destravecou-se”, “homenzou-se” do melhor jeito que pôde. O parceiro ficara no Rio de Janeiro com o filhinho adotivo. Teve de dizer-lhe que era homem agora e que cuidaria do filho, mas já não seria “casado”. Sentiu-se puro como um bebê. Dizia que já tinha feito sexo demais a vida toda e agora não precisava mais; iria viver para Deus de todo o seu coração...Mas não podia ficar em Belo Horizonte, tinha de voltar ao Rio. O Geraldo, da Caverna, se preocupou: “E agora, o que vai ser de Daisy? Quem vai entendê-lo para integrá-lo?”A essa altura Daisy já se chamava como homem, mas os trejeitos de uma vida no submundo não saem fácil. As marcas (as mãos na cintura, o andar reboloso e a voz fina que ainda desafina) ficam.Daisy voltou para o subúrbio do Rio. Despachou o parceiro, pegou suas coisas e mudou-se. Mas aí veio a parte dura: conseguir um emprego, se sustentar de maneira digna e encontrar uma igreja onde fosse aceito. Nos primeiros meses quase não tinha dinheiro; a única congregação do bairro era o lugar mais perto. As emoções de Daisy ainda eram as emoções de uma caricatura de mulher. Ia à igreja esperando amor como o que encontrara em Belo Horizonte. No começo encontrava o porteiro:– “Tem culto hoje não, desculpe.” – “Ah...” – o ar decepcionado de Daisy não mudava em nada a cara do porteiro. Infelizmente a igreja não conseguiu entender o rapaz. Daisy tentou mais uma e mais outra. Mas o que aconteceria se no bairro vissem aquele homem ainda com peitos freqüentando os cultos? Terminou por entender que não era bem-vindo – mais uma ferida para carregar para quem já sofreu tantas.Sem ajuda na fé e sem apoio econômico e social para recomeçar, a fé de Daisy se apagou. Geraldo o viu um dia desses nas páginas de uma revista, militando pela causa homossexual, e respirou aliviado, pensando: “Pelo menos ele ainda está vivo...”Daisy, se você está lendo isto, tente outra vez. Vamos aprender a caminhar com você pelo caminho da restauração. Vamos aprender a fazer da sua vergonha a nossa vergonha e, pelo nosso amor, fortalecer a sua fé naquele que nos transforma.

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Bráulia Ribeiro é missionária em Porto Velho, RO, e presidente da JOCUM – Jovens com Uma Missão. braulia_ribeiro@yahoo.com