De um lado, prédios luxuosos, shoppings e avenidas largas. Do outro, palafitas sobre áreas alagadas, tráfico de drogas e passarelas improvisadas de madeira. Entre esses dois mundos, uma ponte. Esse é o retrato do centro do Recife, que agrupa em apenas nove bairros o que há de melhor e de pior na cidade. Por trás desses contrastes visíveis a olho nu, os indicadores socioeconômicos mostram que a região é a mais desigual do município.
As discrepâncias em termos de renda, saúde e educação são tamanhas que, de uma avenida para outra, a expectativa de vida dos habitantes chega a variar quase 13 anos. Enquanto um morador da avenida na orla da praia de Boa Viagem vive mais de 78 anos, os habitantes da favela do Coque não chegam a completar 65 anos. A comparação é do geógrafo Jan Bitoun, professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), que elaborou alguns dos textos inseridos no Atlas de Desenvolvimento Humano no Recife, elaborado pelo PNUD e parceiros.
Em seu estudo, o professor identifica três padrões de desigualdade no Recife. O mais acirrado deles está exatamente no centro. “É uma região que está recebendo muitos investimentos novos, mas esses investimentos estão ignorando as áreas pobres, que estão sendo tomadas pelo tráfico de drogas. Isso acontece porque, à medida que se tem mais dinheiro circulando, o traficante pode vender a droga mais caro. Então, qual deve ser a diretriz? Tem que dar atenção para aquelas grandes favelas que estão ali do lado”, recomenda Bitoun.
O segundo padrão de desigualdade fica na região intermediária, entre a faixa litorânea e o morro. Trata-se de um trecho historicamente cortado pelas rotas de circulação de mercadorias entre os engenhos e o porto. Com o passar dos anos, a região começou a ser ocupada e os antigos caminhos se tornaram avenidas. “Hoje, quem vive perto das avenidas tem um padrão de vida médio, às vezes até um padrão alto. Mas quem mora nas áreas mais baixas, onde há inclusive problemas de drenagem, tem um IDH mais baixo. No entanto, a desigualdade não é tão intensa quanto no centro”, observa o geógrafo.
De qualquer forma, a desigualdade entre as diferentes regiões nessa zona intermediária também pode ser observada nos índices de longevidade. Os habitantes da região ao longo da avenida Beberibe, que corta os bairros de Cajueira, Água Fria e Porto Madeira, por exemplo, têm uma expectativa de vida de 72 anos, enquanto os que moram à beira do Canal do Arruda vivem pouco mais de 65 anos.
O terceiro padrão de desigualdade é o característico da região dos morros, onde existem aglomerados populacionais encravados na mata. “É uma periferia nova, que começou a se constituir na década de 50 e que tem, em geral, um IDH muito baixo, com exceção de algumas ‘ilhas’ melhores — não que aí situação seja boa, são apenas assentamentos mais consolidados, menos pobres”, descreve Bitoun. Ele adverte que o maior problema está nos bairros que estão surgindo em decorrência do crescimento populacional. “Novas comunidades estão se constituindo praticamente sem nenhuma intervenção do poder público, o que tende a intensificar a desigualdade”, afirma.
Como nessa região periférica a pobreza é generalizada, a desigualdade acaba sendo menos acirrada, de acordo com o professor. “Na área das COHAB UR 1, 2 e 3, a expectativa de vida é de 71 anos, acima da registrada na Vila dos Milagres e Pacheco, que é de 64 anos. São 7 anos de diferença,” aponta Bitoun.
Fonte: http://www.pnud.org.br/pobreza_desigualdade/reportagens/index.php?id01=1928&lay=pde
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